Espetáculo

Espetáculo

As mãos trêmulas parecem não saber o que fazer ou por onde começar. As bocas ocupadíssimas por beijos e lambidas perderam completamente o dom da fala. Não há mesmo nada a ser dito, palavras são limitadas ante emoções vividas. As peles queimam, os pelos eriçam diante do toque, o desejo latente é quase dor. O cheiro de suor prenuncia o do prazer, o odor almiscarado do gozo, o elixir da vida, a perpetuação da espécie no seu mais mágico e delirante momento. Roupas e adereços são descartados num delicioso e embevecedor ritual conduzido por todos os exacerbados sentidos. Os amantes se fundem, se atam, se prendem entre pernas tesas e lençóis molhados. Acima a lua manda as estrelas acenderem o céu e iluminarem o espetáculo, cometas se jogam para assitirem melhor, mas no centro do improvável palco, os amantes em exercício, viscerais e reais atores, fazem brilhar a única luz de primeira grandeza, a da perfeita e alquímica união do amor e do sexo. Em neón, as nuvens anunciam a suprema atração em cartaz, o ato de fazer amor, o único que jamais se repete e é sempre inédito a cada cena.

Leonardo Andrade