[Que Gosto Tem se...]

Tenho vontade... não; é mentira;

a tal da Vontade é mansa,

é feito caminho de lesma ao sol!

Eu tenho mesmo é ânsia doida,

desejo infrene de saber teu corpo,

de saporear o teu corpo,

de saber o sabor de teu mistério,

saber o sabor de mim em teu corpo,

saber o sabor de ti em mim,

saber, no céu da minha boca,

no centro da minha língua,

o sabor que me leva ao infinito!

Meu cheiro, teu cheiro,

meu gosto, teu gosto,

até que a morte engate

a marcha ao contrário,

e o carro da minha vida,

parado na lama vermelha,

fique lamentando baixinho,

de faróis mortiços, pensando

no que poderia ter sido,

se eu apenas... Ah! Mas eu,

quem sou eu, afinal? Quem?!

[Que gosto tem [a vida] se eu te tocar

assim, ponta de língua lambilenta,

em círculos que se confundem... lá?!]

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[Penas do Desterro, 10 de outubro de 2007]