O Sol Obedece

O amor, realizado a quatro mãos, ou metabolizado pelo ser no seu campo, empodera o gosto à naturalidade da vontade de ser no âmago , saindo da regra, da técnica, tornando o homem e a mulher a própria reza, sendo sem roupa na vida.

Amantes na câmara nupcial, corpos inflamados pela paixão, esquecem o que são, quem foram, o que serão, comungam a satisfação de estarem um para o outro, na singularidade, no estado que dispensa argumentações e sentido.

A Alma é exigente, pede o perfeito para estar no sublime, a comunicação não vem do corpo físico, muito menos pela razão, mas do império insondável de um estado que leva o ser a um domínio sem nome, que sacramenta o estar na instância onde o amor é rei.

Nestes tempos de clausura, onde a liberdade de ir e vir é colocada a prova, e a tortura do não poder ser gera confronto com o querer, como a lua espelhada nas águas tranquilas, aquele que ama vê o reflexo da atividade amorosa na vida que está de passagem, sente o gosto dos instantes de outrora, sem culpa, remorsos ou ressentimentos.

No agora agonizante, onde a razão abre os portões do interior para que a angústia e o fracasso reine, o amor à vida, como hóspede de casa antigo, destaca-se em meio ao nada.

Mesmo não tendo mais ideais, desconstruído os alicerces onde existia a plataforma que sustentava os da primeira, da segunda e da terceira classe deste orbe, vendo o preto, o branco, o índio, o oriental e o esquimó expostos aos mesmo mal, a alma que foi tomada pelo sentimento amoroso sem causa vê-se no continum comungando com a vida no toucador, em meio a dor, ao horror, à sina, ao debalde.

O amor, aquilo que nunca teve explicação, nem nunca terá, que sobrevive junto com a ordem e desordem das coisas, fundamento da criação, pedra filosofal que indica o caminho, aquele que o Sol obedece, que leva tudo e todos para o destino que o Imanifesto, Deus traça no seu mistério.

O amor é fogo que arde sem se vê.