O poeta é louco

Que venham as tragédias que virão pela loucura de escrever como escrevo agora.

Prefiro poeta a poetisa. É um termo mais sucinto e fácil de ser pronunciado, mas não o prefiro por esta razão. Penso a primeira palavra como aquilo que embrulha todo o infinito com uma só mão. Muitos podem não acreditar na imensidão de signos e histórias que cabem dentro do vazio de uma linha, em que um poeta, que seja um poeta qualquer, creditará o tudo da sua vida e a amplidão dos seus sonhos. E quantos sonhos têm os poetas...

Cada qual a seu tempo e maneira, são os poetas quem constroem as asas de cera e as casas de madeira, as vidas completas e também as vidas censuradas e mortas, mesmo que estejam vivas. Será que você me entende?

É o poeta quem vai no fundo dos sentidos, ele adquire conhecimento de causa de modo a ser justo o suficiente para enquadrar nos seus versos os pensamentos íntimos do seu alvo, conhecendo os precisos passos e as horas que se vão em risos e choros.

Vai cheirando e desvendando pé diante pé o que se guarda com tanta primazia e também com tanto medo, o condenado e o aparente. Quem de nós nunca pensou ou nunca sentiu... E se perguntou depois como é que se pode imaginar uma coisa assim?

Pois sim, o poeta é o dono da verdade, não da verdade universal e científica, aquela que estuda os corpos e os astros, no entanto, é mister em distinção entre o podre e o perpétuo de qualquer cantinho que houver em nós e for tanto além do corpo e bem abaixo do sonho. Eis que, para o poeta, o sonho é um limite que anuncia apenas o breve tempo para um novo horizonte. E faz deste tempo e espaço mais amplos, vívidos e cheios de graça.

Sabe, o poeta é aquele que, como diria Vinícius de Moraes, anda com pés no chão sem tirar os olhos dos céus. Na minha visão, o poeta não tira os olhos é da lua. A lua é um modelo de perfeição diante dele, que se vê tão pequeno e duvida da capacidade de descrever algo semelhante. O poeta ama a mulher, guardando no espírito seu semblante, de violão ou de amante. E respeita que tal mulher, seja ela de cadeia ou de sertão, de beleza ou de aventura, deseja ser sempre a lua do poeta.

Mas o poeta tem um lamento... Um lamento só. Não sabe nada ou quase nada de si mesmo. Ele passa tantas horas a observar o ritmo das ruas e do coração das pessoas que se esquece do próprio poeta que mora dentro dele. E desta forma, o poeta segue a lamentar sem miados, choro nem vela e nunca, mas nunca se arrepende de ter perdido a vida entre olhares furtivos e letras na cabeça, que preenchem a linha vazia. E no fim do soneto, o poeta ainda descobre a passividade dos seus amados protagonistas em continuar suas vidas esvaziadas. Quem manda é o coração. O poeta é louco, eu sou poeta.