Miscigenáufrago

Meus santos guias em alerta me dobram os joelhos, tenho febres, e nada me afasta desta taça, desse livro, dessa janela à beira rio. Aqueles como eu que têm receio, põem a alma à sacada e sorvem vida in natura diretamente do vento e do sol que invadem a sala humilde. Nada se esconde à solidão desta hora bendita, em que os espíritos ancestrais vêm me visitar, meu avô íbero, minha avó negra, ai que esse amor atávico me dói nas veias, pulsa na pele morena nostálgica, eu mesmo sou minha ilha de memórias, eu mesma náufrago de Espanha perdido na selva amazônica entre febre e traição, sobrevivo e piso forte na cidade mulher, onde meu suor fecunda a esperança.

ROSE VIEIRA
Enviado por ROSE VIEIRA em 10/04/2020
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