Conversa com um ilustre desconhecido.

Olá!

Quanto tempo faz que não vejo você sem saber quem é!

Andei por aí preso no sofá, na cama, na cadeira. Estive nos quatro cantos deste mundo redondo e não houve plano da Terra a me fazer sair da órbita e gravitar em outras galáxias de sons destoantes e imagens nebulosas. Finquei pé nos sonhos meus e não pude falar contigo. Consigo? Agora seria mais adequado. Eu vi muita gente e vi a mim mesmo na solidão.

Eu tornei algo sublime e lindo em palavras de adestramento humano. Esse jogo de estimulo e resposta cansa, ainda mais quando não se pode fazer um afago. Um par de olhos que tudo veem e dois ouvidos que tudo ouvem comandando uma boca de fala mansa e crítica. Adeus liberdade de ação!

Desliguei os aparelhos da semana. Estou na sua companhia agora enquanto não me descobrem por aqui. Desculpe-me estar sussurrando. Esta conversa deve ser solitária e universal. Quero vê-la em ondas indecifráveis e imperceptíveis a quem está estatalado se fritando na areia da praia ou para aquele como baiacu estufado na superfície do mar. Sós na superfície estagnada, sós na areia movediça... Converso com você contigo convosco comigo pra mim ouvir a voz e saber o que é para eu fazer. Rever a estrutura do dizer e medir cada forma a fim de que caiba na forma da dita bendita palavra em notas audíveis e confortáveis num estilo inédito e tradicional agregador de novidades, sério e maduro, descontraído e jovial. Facílimo, não concorda?

Vou escrevendo e o meu cálice transborda... Hoje eu não deveria ter te procurado para conversar, mas não resisti. É um pouco de covardia da minha parte porque você não me conhece mesmo que já tenha sentado comigo a mesa e partilhado o pão ou estudado a lição. Você não me conhece porque ainda não me apresentei. Sabe quem eu sou? Vou te responder um dia quando mergulhar em mim e trazer do fundo algum tesouro até a luz.