Os livros, meus oráculos
aprisionada no tempo indefinido
procuro um ponto de apoio...
e, aleatoriamente, encontro antigas certezas..
livros que falam de longas guerras
com datas certas de começo e fim..
de povos combalidos, que se reergueram,
de esperanças refeitas, novos começos,
de tudo que parecia sem solução
mas, como por milagre, renasceu das cinzas...
por isso, amo os livros, esses papéis impressos,
encadernados...que em rápidas pinceladas
transformam o tempo em um brinquedo
e manuseados com descuido por nossas ávidas mãos,
prescrutados por nossas mentes ansiosas,
são como oráculos, com todas as respostas...
e, hoje, as únicas fontes legítimas de esperança -
ou de ilusão - como se queira entender...
se agora, o tempo vai seguindo, apenas seguindo..
quase sem referências...
e se parece mais a um longo caminhar em meio ao deserto...
o que mais pode servir de âncora, a não ser o passado?
um tempo registrado em anais, tudo com seu devido começo
e inevitável fim...
com suas mortes pontuais, suas vidas salvas...sua continuidade...
ah..e aqui está ainda essa teimosa humanidade...
única rima deste pretenso poema...
a continuidade de tudo, apesar de tudo, está nos livros...
ali, cuidadosamente guardada só pra se saber
que tudo passa...e a humanidade prossegue, quase indiferente,
como um rolo compressor...e todas as relativas verdades
todas as abusivas mentiras...ficarão ali marcadas,
mesquinhas ou grandiosas...sobrevivem
ante nossos olhos já um tanto experientes...
mesmo que não estejamos mais aqui pra ver.