VOVOZINHO
He he, sou eu sim. Cá estou na cadeira de balanço, na varanda de minha casa, pegando o sol da manhã. Como todo velhinho, acordo com os passarinhos. Logo vai começar a algazarra da turma. Vovozinho! É como me chamam. Netos, bisnetos, noras, genros, amigos e amigas. Até mesmo meus filhos e filhas, não mais me chamam de papai, só vovozinho, já viu isso?
He he, é gostoso sentir o sol na pele do corpo cansado e do rosto encarquilhado. É energia de vida. Procuro perceber o movimento na rua, porém a vista não mais alcança distância, entretanto, a memória, mesmo falhando de perto, às vezes viaja longe, lá onde tudo começou, com a vovozinha, que desencarnou e não está mais aqui pegando sol comigo; deve estar por aí, tomando conta da prole.
He he, quantas décadas, quantos anos, quantos meses, quantas semanas, dias e noites, horas, minutos, segundos estivemos juntos; o que havia para viver, vivemos, alegrias, sofrimentos, dores, amores, trabalho, trabalho, trabalho.
He he, foi bom meu Deus, foi bom...