um lado da conversa
Como vivo?
Ah, a cada semana invento umas histórias
Dou-me aventuras
Às vezes surpreendo-me com presentes inesperados, ousados...
Se são reais?
Agora são.
Na maioria das vezes, pelo menos.
Bom... Depende do que você chama de real...
(…)
Ah, sim, então agora são reais mesmo...
Porque, ainda que não durem
Ainda que sejam efêmeros, precários, de aluguel
Acontecem
Têm carne e osso...
As histórias, as aventuras e os presentes...
Se me satisfaço?
Olha: na verdade, não posso reclamar
Satisfaço-me, sim
Porque é tudo autêntico, legítimo, mesmo quando é tudo falso...
Tem relação, entende? Tem sentido.
É só saber o quanto esperar de verdadeiro
Em cada falso.
Em cadafalso, entendeu?
Enfim, a vida é apenas pouco mais que um trocadilho...
Se me sinto sozinho?
Claro que sim, quase o tempo todo...
Como não?
Nem sei se haverá como acabar com isso
Como suprir, completar...
Talvez haja, mas não pra mim.
E tudo bem, também.
Vai saber?
Ah, mas ainda erro muito! Ainda erro a mão muitas vezes...
Sabe exagerar, exceder, perder o controle,
Ferrar a situação...
Claro que sim! Embora seja tarde, comecei há pouco...
Então, enfiar o pé na jaca
Viajar na maionese
Perder a linha, a estribeira
É inevitável pra mim!
Se vai dar tempo?
De quê?
De aprender?
Francamente não sei...
Estou num mobral da vida, bem analfabeto.
Dedicando-me bastante, é verdade.
Mas como saber? É tanto a aprender. Tantas letrinhas...
Nadar e dançar tenho certeza que não será dessa vez...
Mas tem bastante coisa que eu acho que dá
Que já está acontecendo
Surpreendente e subitamente acontecendo:
Entrei num intensivão...
Como a humanidade inteira, aliás...
Enfim, vamos juntos... Estamos juntos...
Quanto lugar comum, hein?