Quando se faz noite e ela veste-se de estrelas brilhantes
Perfuma-se da flor que generosa doa seu aroma
Vem-me uma onda irresistível de saudade com sabor de passado
Acende-me a altitude de um balão de gás presa por um fio invisível
Sinto-me lá no imaginário teto do céu e aqui na superfície solidificada
Sou uma interterrestre falível de lauta sanidade
Espraiando-me no concreto acinzentado de uma cidade órfã
Vôo ora acima das nuvens, ora rente às ruas maltratadas da minha infância
Fui órfã, mas não deixei em orfandade nada do que me foi dado
É na noite que sou um eu que se limita no dia que me queima a íris
O olho da noite, aonde ele é e está, é abrangente e nada lhe escapa
Escapismo vem sendo a solução daquilo que a mente não registra mais
Fico encantada e em silêncio diante da interrogação sem resposta
Por certo e ereto é uma ambigüidade pateticamente solene
Faço meus cálculos e concluo uma felicidade duvidosa
Fui santa e meretriz, conheci segredos, desfilei na passarela da demência
Só não ousei pedir um perdão que jamais quis, fato que meus fatos fizeram ser-me
Sinto a alegria daquele conluio que apenas fez-me menos identificável com o mentor
Mas da claridade da noite não há como fugir além mais que do sono
A noite desperta-me para uma realidade seca, tosca, formidável
Também me ensina a lapidação, a rega, a transformação para uma excelência
Que haja noite e fez-se noite para muitos e variados propósitos
Até mesmo o de descansar uma alma aflita de verdades subnutridas