"Sem palavras"

Casei-me com as palavras muito cedo,mas eu as perdi no caminho.

Agora as procuro intensamente e não as encontro

Escapam-me da minha memória,

Ficam vazias,sem conteúdos,sem significados,sem rimas

Sem regência, sem palavras.

Uma urgência me faz criar neologismos em busca delas

Cristianidades vianescas me acolhem param não sucumbir às regras...

Regras das gramáticas, dos versos, das prosas, da poesia.

A o n d e !!! e

p q

O ? u

r o a

q m n

U o d

E ? c o ?

Estendi-me em busca delas nas sublinhas das notícias locais,

Nas letras repetidas de um telejornal... Velhas notícias, velhas palavras

Velhas mortes, velhos assassinatos,velhos genocídios raciais.

j o v e m , minoridade, pobre, favelado mas,sobretudo com a pele marcada pelos grilhões da dor e do sofrimento social: negroooooooooooooo!!!!

Fogem-me as palavras, as imagens se “nebulizam “ de cinza claro, e aos poucos se formam cicatrizes ao vento da manchete sangrenta e cruel.

Não ouço o áudio,mas, as imagens estão gravadas na memória da nossa história.

Quero ouvir, quero formulá-las,mas me engasgo com elas.

Fogem-me as palavras.

Palavras sábias, de conforto, de sentimento,de lamento.

Fogem-me as palavras para escrever sobre este quadro branco.

Fogem-me as palavras , apesar de ter-me unido a elas, havia um divórcio imperativo!

Fogem-me as palavras, pois nada que tenha a falar, pode calar a dor do grito surdo de uma mãe diante de sua perda...

Pe r d o e – me mas, me faltam às palavras!!!!

Dedico às mães que perderam seus filhos cruelmente para a violência e intolerância urbana.

Christina Viana, jornalista,poeta e artista plástica