A flor, à segunda vista

Se medo tivesse eu de cair no perigo

No jazigo seguro das entranhas de meu pai estaria agora

Contemplando tão ao longe a eterna estupidez humana

Com os olhos fixos de quem nada vê, nada sente, nada diz.

Se medo fizesse parte do que me transformei hoje

Estaria à essa hora pedindo clemência a um desconhecido desconhecedor de almas

Alguém com coração preso ao que os homens chamam de "pecado"

Mas se eu lhe perguntasse o que é o erro, certamente nada diria.

Abaixo do céu nada mais é novo

Nada do submundo humano é estranho

Angustia-te? Surpreende-te?

Então não sabes que a vida é agora e aproxima-se a cinza fria das horas?

Não sabes que o tempo rouba das carnes o pudor e a vergonha dos atos belos?

Se eu tivesse medo, estaria agora tão quieta

Sem voz, nem vez, nem pranto, nem nada

Tempo? Tempo não existe, a vida é eterna.

Mas os dias, curtos demais

E moldados na incerteza dos maus passos na estrada longa.

Angustia-te os erros, os fatos abertos às claras?

Saiba que é tudo questão de escolha, que quem escolhe viver, está errando.

E eu escolhi esse caminho, do erro vivido com a cabeça erguida de quem aprendeu

E não como quem lamenta as amargas lágrimas deixadas mundo afora.

Porque tudo que há dentro do coração humano

É belo e confuso

E tudo que há n'alma da gente é tão insano e tão bom

Nossa passagem pelo mundo é voraz

E estupidamente simples.

Como olhar a beleza de uma flor, sem medo, pela segunda vez.