Prece ao amor
Ah, a doce melodia do gorjeio dos pássaros,
anunciando a manhã que chega sorrateira
me trazendo a certeza de que a vida é sim passageira,
mas que cada um de seus momentos têm em si
uma verdade encrustrada,
do muito que vale amar e ser amada,
do pouco que custa doar amor e mais nada.
Ah, eu quero hoje sentir raios de sol em minha pele
queimando cada célula, agitando cada átomo,
me fazendo sentir a intensidade da vida
me fazendo fremir a cada raio, cada contato,
me fazendo esperar ainda mais, desejar intensamente
esse sentimento que me impele a alma, que me faz viva
que me tira a calma, me completa e me inquieta
que me faz andar por sobre águas, que me faz plena e poeta.
Ah, que dizer das horas inebriantes, do puro amor dos amantes?
Dos anseios do corpo e da alma, da perda indecente da calma
fazendo bolir com a moral e os costumes, fazendo rir das vergonhas
fazendo entregar-se ao deleite, decompondo cada gesto em artimanhas
capazes de tirar o sono, a fome, a coerência, e a própria decência
em nome de uma verdade bem(dita), em nome de uma doce querência.
Não quero a ordem dos homens da lei, nem a ordem métrica dos versos
não quero regras nem cobranças, nem acordos ou alianças,
quero a leveza das folhas que caem, quero sons alienados e desconexos
quero pisar a areia com os pés, fazer desenhos no ar, criar danças
da chuva, da fertilidade, da esperança, tal qual índios e crianças,
viver naturalmente, sem amarras, rótulos ou enfeites,
e esperar que o destino se cumpra, que faça valer minha crença
de que viver sem amor é inútil, e quem ama marca por si uma sentença
de que o amor é o grande segredo da vida, e de todas é a verdade mais bem (dita).
E, quando da minha morte, a hora chegar finalmente,
que não esteja na minha lápide um triste lamento
mas a verdade estampada e entalhada, para sempre
de que aqui viveu alguém que amou plena e intensamente.