o modelo ideal

O MODELO IDEAL

Num certo dia de inverno, decidido Prossegui ao abraço da brisa fria e definitiva que me conduziu para outro lugar.

Sai da praça e segui em direção ao objetivo traçado.

Diante de todas as cenas de ingratidão e repúdio, esta que presenciei realmente ajudou a afetar, ainda mais, o despojo.

Após atravessar o centro da cidade, me deparei, assim que contornei a esquina, com uma casa muito grande e luxuosa que tinha um enorme jardim com árvores perdendo as folhagens e sujando a calçada de acabamento trabalhado, na calçada haviam alguns sacos de lixo que aguardava seu destino, um dos sacos de lixo estava aberto e um menino que tremia de frio e vestia roupas em trapilho procurava, avidamente, alimento para matar sua fome... Meu Deus! É um ser humano! Pensei circunspecto.

Um cão desesperado abria outro saco de lixo e se defendia do menino com um alimento qualquer na boca...

Eram desiguais na igualdade (um cão e um menino)...

Eram iguais na necessidade (a fome).

Difícil imaginar um ser humano em situação tão humilhante, mais difícil era imaginar que isso é corriqueiro no capitalismo; “modelo ideal”.

Do outro lado da rua havia uma mulher que também observava a briga entre os “bichos”, ela estava bem vestida, usava um casaco de couro, luvas e cachecol.

Notei naquela mulher um jeito necrófago pior que a cena que presenciava, a mulher que vestia negro olhou para todo o contexto e sentiu pena do bicho, o menino. Acenou bruscamente e tocou o cão para dentro de seu lar, colocou-lhe uma coleira trabalhada em bronze, e ficou zangada com seu animal de estimação. O menino, com um pedaço de pão na mão, partiu esvoaçado em rumo oposto.

Fiquei perturbado com tudo que vi, e antes de partir pensei indignado:

Que droga de “modelo ideal!”.

...Filho amado e idolatrado pela pátria mãe gentil...

E parti, também, tão esbaforido quanto à cólera que senti ao ver que o menino sorria enquanto se alimentava.