MORTO-VIVO
Hoje acordei mais vivo
Porque ontem tive coragem de morrer.
Senti a pujança e a contundência das coisas
Tão fortemente, que elas me cairam como cócegas cerebrais,
Corporais, altamente saudáveis...
Não repararei no dia.
O dia sou eu.
Eu sou mais leve que a menor gota
De qualquer chuva.
Sou mais reluzente que qualquer filete
De qualquer sol.
Saí da noite e entrei no dia
Com a roupa trocada por dentro
E prestei atenção ao vôo de uma borboleta azul
(ou de um azul borboleta) e percebi que elas
Voam totalmente chapadas, descontroladas,
Realmente livres...
Que vôo lindo: curvas tortas, sem alvo, sem direção...
Mas encontram a flor
E quando param e esticam as asas
Mostram um cenário que até hoje ninguém chamou de feio.