Borboletou com a Asa Dura 28

Estar dependente de terceiros no ínterim da melhora milimétrica, que foi se verificando nos meses, e nos dois primeiros anos do início dos primeiros sintomas, onde libertar-se da respiração artificial, alimentar pelas mãos de terceiros, e depois sozinha, ser carregada como boneca de pano, sentindo o peso morto do corpo diuturnamente, conhecendo na intimidade a dor nevrálgica provinda das nevralgias e inflamações no processo de cicatrização nos ligamentos, nervos e tendões, ocorrendo quedas e lesões, devido à fadiga muscular crônica que perdurou, acordando no meio da noite com sensação de sufocamento por conta de sintomas adversos na traqueia, devido ao uso prolongado das aparelhagens de intubação, em meio a perda da gestão da casa de morada da família, por falta da independência do corpo, junto do desafio de arregimentar os efeitos ígneos da doença com o relacionamento com aqueles que passou depender de ajuda, não foi obstáculo para o propósito de ser mãe, que havia desistido, por ser estéril, ser apresentado.

Disse Nit um dia, e sabia de suas razões: "Para quem tem o porque viver, aguenta qualquer como".

Depois do amor à vida desperto, viver nos laços da fraternidade humana nos cuidados com o corpo, recebendo ajuda, remunerada, outras, voluntária, inaugurou-a no relacionamento com o outro, provindo de vários credos, culturas, caráter e tendências. Revelando para si e para aquele que correspondia, a possibilidade da expressão do melhor e do pior de cada um.

Na recém condição de estar num corpo gestante, desafiou-a estabelecer contato com o mundo pensando na sobrevivência da mãe e do bebê que estava sendo gerado.

Não enxergava outra opção, a não ser a possibilidade da filha ser cuidada junto dela.

Estar na vida. Em vida, para a vida. O destino pedia pressa, atendimento ao propósito sagrado junto ao recomeço. Ser mãe. Encontraria um jeito para tamanha e nobre responsabilidade.

Ao descobrir que havia engravidado, como palavras prontas na mente, vindas do coração, desenhava pela força do pensamento as atitudes da mulher -mãe renascida. Em como se manter para a sobrevivência de si e daquela estava sendo gerada.

Para os cuidados da mãe e do bebê, as circunstâncias foram ditando, e o instinto de sobrevivência na mulher desperto foi ditando as atitudes que desaguavam na melhor escolha.

Desde a filha concebida, passou disponibilizar a ela, a própria Alma, seu interior, seu corpo.

Viveu o ato de ser mãe integralmente, ao menos na gestação. Ao nascer, a filha foi amamentada como ritual pela mãe.

O restante, foram as mãos da fraternidade humana na parceria dos cuidados com a filha, no banho e na troca, nas idas ao médico, no passeio com a filha, no carrinho, no parque, no colocar no berço para dormir.

Quando com a mamãe, no canguru, dependurado nos ombros, em frente ao abdômen, passeavam dentro de casa e fora, na cadeira de rodas.

Na menina de sete anos, a filha manter-se-ia inseparável da mãe. Sempre que podem, vão ver o Sol se pôr, para não deixar de relembrá-las que ele anda para frente.

Márcia Maria Anaga(Direitos Autorais reservados, publicado no site Recanto das Letras)

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 11/05/2021
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