NOSTRADAMUS E FÊNIX
Jorge Luiz Alves



"No final dos tempos, quando os derradeiros brasileiros forrarem a superfície de um chão entupido de cadáveres, uma sinistra figura, liberta das correntes de quarenta e três anos após a Democracia e a Justiça Social guardarem o Éden com as Flamejantes Espadas Constitucionais, desfilará com sua Trombeta Eletrônica a reconvocar os demônios fascistas travestidos de auriverde boçalidade, a fim de governar a Finada Terra da Igualdade agora sob novo epíteto - o Dominato Evangeliciano da Ignorância e Truculência.
E os antigos demônios levantar-se-ão das tumbas. E terá início os Jogos de Hecatombe. A caça aos justos será feita pelos Cavaleiros Apocalípticos de Rio das Pedras, querendo as tripas de tudo que se pareça com foice, martelo, vermelho, ciência, cultura, negritude, indianismo, ecologia, intelecto. Apenas os prosaicos e simplórios governarão e se beneficiarão da pátria-mãe-gentil, aquilo que, antigamente, chamava-se Brasil.

Mas... em meio à campa desolada dos corpos putrefatos, uma pequena rama brotou. Vencendo a Morte, a delgada presença de Vida cresceu, acelerada e viçosa, cobrindo o chão necrosado e espalhando o húmus da Resistência. E por mais que a mortalha segurasse os galhos que viravam troncos a cada segundo, acabava por se rasgar, ao mesmo tempo em que o tronco subia, primeiro verde vivo, depois um carnaval de multicolorida vitalidade.

A treva ainda cobria o horizonte, e o cheiro nauseabundo acompanhava o mensageiro do caos e seu aparelho de tragédia nas mãos, a convocar satanases. Mas, lá atrás, já colorindo uma tênue alvorada, a árvore tomou forma de Mulher. Cabeleira negra, tez da cor da Liberdade, retorceu os mais fortes galhos e, como braços fossem, adrede lançou um desafio - Renasço das cinzas, sou Marielle; e teu caso, demônio, já está perdido"


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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 05/06/2021
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