Sem parar ...

Sem parar ...

Caminho na tênue linha da dúvida, um fio oscilante que separa o sim do não.

Assisto sonhos se desfazerem, pseudo-amores fugazes sendo oferecidos por trocados, paixões de combustão instantânea se dissiparem como a noite ao amanhecer.

Atravesso becos e viaelas onde a lua não ousa entrar, ouço ruídos indecifráveis e gritos apavorantes.

Nada me faz parar, mesmo que não saiba exatamente como devo seguir ou mesmo para onde devo ir, só não posso ficar estático e ser engolfado por essa vida efêmera e artificial que pulsa a minha volta querendo me sugar para seu vórtice e me nivelar aos olhos sem brilho que fitam sem enxergar.

Estou absolutamente só na multidão, falo uma língua diferente e a de todos é indecifrável para mim, assim como a escrita hieroglífica que impede a nossa mais simples comunicação.

Talvez eu não seja daqui, nem de lugar nenhum, meu passado e minha história se desfizeram com o tempo sem deixar marcas, talvez minha vida tenha sido gerada ou criada por alguma força ou alguém apenas para lhe fazer par.

Sem você não existem sorrisos, sinapses, trocas ou sentido, o porque sequer é indagado tal a indiferença de sua resposta, sou um extraterrestre vagando sem objetivo num mundo totalmente desconhecido.

Você é única entre tantas iguais, destaca-se em qualquer lugar e eu a encontraria de qualquer forma, seja correndo entre os campos Elíseos ou acorrentada no inferno.

Não há distância que vença nosso ímã, não há objeto ou pessoa que rompa nosso magnetismo, nem um diamante poderia arranhar nosso encaixe.

Nenhuma noite é suficiente para a execução do nosso prazer, nem o mais improvável dos limites pode nos conter e nada nem ninguém pode superar a magia ímpar da nossa união perfeita de corpo & alma.

Só esse amor que me faz andar vendado no fio e me atirar às cegas num trapézio sem rede é capaz de unir o único par inteiramente compatível num infinito jogo da memória de peças amorficamente iguais.

Leonardo Andrade