UM VERSO EM PROSA


Em minhas mãos um pedacinho de tempo... Sim, assim, deste jeito. Lento e calmo. Para que eu possa viver mais um dia enquanto dedilho minha história e fabrico algum sonho para o resto do dia ... Enquanto a tarde se achega e escorre e finda, enquanto o sol se espalha pelo horizonte para mais um espetáculo.

Só então vou poder seguir meus impulsos e sorrir para não perder essa criança que tenho em mim e que, em certas horas, caminha livremente pelas estradas até que lhe enxuguem as vontades. Até que a ponham no colo, até que o tempo se espalhe pelas cumeeiras brincando com as saudades e retorcendo as histórias que viveu por aí...

Sim, eu também posso seguir meu caminho. Seguir o vento, driblar o tempo. Posso ousar. Posso transgredir minhas próprias leis. Posso - e por que não? - sonhar... Posso também renovar meus desabrigados desejos sem perder-me... Sem ferir-me. Sem mais nada perder. Em silêncio.

Posso sim, brindar pelos mais belos sonhos recuperados. Pelos dias vividos. Até pelas lágrimas escondidas pelo meu travesseiro. Tudo vale. Tudo isso faz valer a pena. Por essa razão, muitas vezes preciso persistir. Até o dia que eu puder descobrir o quanto meus sentimentos precisavam de mim...

E é nessa roda da vida, que quero repousar meu cansaço que nem é tanto. Meu silêncio que nem é pranto... Mas peço que nada me atinja no dia de hoje. Quero viver. Sorrir. Respirar a alegria.

Depois, quando passar o dia, quando sumir o vermelhão do sol, por um momento apenas, vou poder (re)viver esse tempo, num instante. E, em verso ou prosa vou poder sussurrar e (de)cantar, ao longo das minhas melhores horas, tudo o que fala este meu sentimento. Só aí, vou me sentir igual a todo mundo. Vou encher a alma de encanto e acreditar que um sorriso pode me curar dessa agonia que é querer ouvir a voz de um sonho que o vento soprou um outro dia...