Náldica tragédia.

Acaso, devo seguir a Delfos para consultar o Oráculo?

Que dirá da minha maluquice? Que dirá de mim?

Quando o Cavalo de Tróia me encantava, cantava.

E no meu canto, a flauta, a falta, a faustica, casuística,

Causou-me atração.

Cavalo de Tróia, e eis que incendeia a paixão.

Amo duas, ou uma em duas?

Ou três em mim?

Ou todas e nenhuma?

Ou mim em todas?

Ou apenas mim?

Vem uma e me rasga o peito ao meio,

Chuta o esteio, desestabelece, desestabiliza,

Alisa minha alma. Leio-a. Lei não há.

Torna-se presente. Impõe-se. Rasga. Leva a sua parte.

E me deixa sangrando.

Vem a outra, simplesmente amando. De mansinho,

Cuida direitinho. Alisa de sua parte. Cura as feridas.

Estanca o sangue. Tranqüiliza. Aviva. Vive-a. Viva.

Vi, via, vendo, viviará?

Cobra e é reatribuída.

Anestesia-me e dá-me o golpe.

Arranca o outro lado. Sai de mansinho e estou sangrando.

Ferido.

Sem saber o que fazer.

Tragédia grega?

Oráculo, dizei-me!

Procuro as ninfas do Parnaso e elas, com seu bailado aos gases,

Também me encantam!

Todas as ninfas, do Parnaso ou da planície,

documental, livresco, virtual ou real,

Me encantam.

Ninfas todas do universo, entrai em transe para mim.

Mas, há duas. Há duas que me despedaçaram!

Não tenho mais coração a oferecer.

Ofereço outras partes. Ofereço o meu espetáculo.

E nem mesmo o Oráculo entende.

Que seja o que tende!

Tenho pernas, braços, ombros, rosto, sorriso, boca, frente, verso,

Versos, reversos, sons, acalanto, canto, pranto, meus encantos,

Mantos para o frio, corpo quente, saliente, mente, minto, sinto, tinto,

Branco, atento, tento, tento, e eis-me aqui, cantando,

Passando só de passagem, bagagem, aprendizagem, margem, mar,

Porta aberta do teatro mágico não só para raros, para todas as raras,

Caras, risos, almas, cantigas de ninar, cantigas antigas, novas...

Quero me espraiar, me derramar, me insinuar, quero viver,

Brilhar? Espero o amanhecer. Que venha auroras sobre as águas,

Sobre as terras, sobre as casas, sobre mim, sobre elas.

Que venha...