Ora, reza, pede e chora.

Não são os mesmos cansados,

Assim como não são os velhos passados,

É da ganância que o povo tem medo

E pelo medo são chicoteados.

Não estão todos no mesmo barco,

Talvez nem mesmo nas mesmas canoas,

Uns viajam em espaçosos cruzeiros,

Outros morrem na lama afogados.

O tempero não é pra todos,

A mistura não é pra todos,

Os grãos foram selecionados,

Os restos foram por fim restados.

Por sorteios mais reais,

Por compassos mais leais,

E que o brasileiro corre.

Ora, reza, pede e chora.

Das canções, as mais ardis

Dos discursos emaranhados,

Vende o pão e compra a janta,

Tapa os ouvidos e se faz fechado.

Olha pro céu, se socorre,

Nas prateleiras se compra lágrima.

Joga sal no puro espeto,

Assa o nada no fogo em brasa.

Há banquete do prédio ao lado,

Há sentinela no prato trancado,

Fecha o prato e faz guardado,

Faz as trancas com cadeados.

Ora, reza, pede e chora,

Pelos pequenos esfomiados,

Pelos sacríficos tão esquecidos,

De um povo tão rechaçado.

Ora, reza, pede e chora,

Pelos domingos que eram vivos,

Pelos centavos ignorados,

Pelo sorriso desesperado.

Acredita na desesperança,

Desespera em seus tormentos,

Vê em seus olhos tão tenra coisa,

Que volta a pedir por ser criança.

Claudemir Evangelista
Enviado por Claudemir Evangelista em 10/09/2021
Código do texto: T7339580
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