O que me pedia, pai?

O que me pedia?

Minhas entranhas? Para que tu vivesse naquilo que em mim fosse revelando ?

Se, dos atritos nos entendimentos, das discussões calorosas que mantivemos, fosse dar no que deu, o resultado das minhas ações? poderia ter, quem sabe, diminuído o impacto de mim no relacionar contigo.

Nunca o enganei, de que em mim vivia um vulcão prestes a rebulir.

Meu silêncio ruidoso era percebido por ti quando chegava em casa ao abrir a porta. Em mim dirigia o olhar, demonstrando na expressão, a linha divisória que ia se formando, sem perder o vínculo amoroso paterno que sempre existiu.

Jamais leu uma página sequer das escritas que aventurei deixar ao mundo.

Caminhava firme ao meu lado nos passos definidos para frente, demonstrando a lealdade no sangue, sem abrir mão da intransigência nos posicionamentos.

Passeando pelas esquinas e avenidas da cidade onde me criou, assim reverbero minha condição de filha na sua onipresença, no que ficou de Ti em meu ser.

Tu, papai, não era para estar aqui, somente sua honra, seus atos, demonstrando o referencial, o perfil de um homem do final do século XX, definido na ação, e na determinação.

Ter presenciado seus últimos instantes na consciência no corpo, foi privilégio e sacrifício, que sacramentou meu ser na aceitação da vida em sua integralidade, incluindo a morte do corpo, e a eternidade que te incorporou.

O processo da partida a qual tua alma foi submetida, o revelou, ao final , no ser mais intrépido que conheci, impermeável, e ao mesmo tempo, abnegado em cumprir o determinado para ti como momento da partida, renunciando o direito a vida na terra. Não porque tenha consentido, mas que atendia à determinação Divina.

Os dias passarão, as horas me revelarão no tempo. Serei colhida para os mundos moronciais, estágios que tu tem submetido.

Estou sendo polida, apurada, depurada, experimentada pelo instinto do corpo animal, e pelas faculdades superiores da alma. Depende, dependerá de mim cada escolha, que definirá o mosaico onde estarão reunidas as minhas ações que tenha praticado nesta existência. Deixarei a obra pronta. Como tenha sido Eu ao mundo.

Não queria levá-lo ao desapontamento, mas estar na maturidade, exposta ao desafio da entrega ao aprendizado, é sublimar o que não deu certo em Ti, relevando somente as virtudes e o espírito aguerrido do seu ser, definidor de águas.

Neste estado atemporal, o saúdo, o reverencio, e o liberto de mim, pretendendo que neste ato tu possa colher mais recursos para sua auto absolvição das dores, das culpas, e dos ais que tenha carregado.

Tu é Luz, papai! Tu é Todo Luz!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 22/12/2021
Código do texto: T7413120
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