Lavra #2
Há quem faça versos a partir de palavras.
Há quem tenha tal dom,
que faz brinquedo com os vocábulos,
como criança a construir castelos de lego.
Eu não.
Eu inicio escrevendo, dado momento,
um tema surgindo, sopetão, à mente.
Se o sentimento não se esgota não paro.
E, talvez ausente-se o talento, mas,
sem sentimento, nem tento.
Não. Minto. Até tento.
Mas, não passo de uma linha.
E sigo, vezes rima, vezes sem.
Assim, de métrica nem me atrevo a falar.
Quando disposto, vai que mexo no ritmo,
pra deixar mais bonito.
Mas, isso já é um momento posterior.
O sentimento já passou.
Versifico enquanto escrevo,
quase instinto.
Se vai bem, não sei.
Ouvi dizer: poesia,
cinqüenta por cento inspiração,
cinqüenta por cento transpiração.
Não sei!
Acho seja cem por cento sentimento.
Transpiração surge mais como adição.
E, de fato, necessita talento, esforço
e até aprendizado.
Muito, por sinal, pra transpirar,
Transformar verso bruto, livre, solto,
desestruturado em poesia.
Eu tenho preguiça de fazer isso.
Escrevo a necessidade de expressar.
Confesso: também desejo de ser lido,
vaidade ou não-sei-o-quê,
Mas há desejo em escrever.
Que acontece nas horas de música doce.
Nas horas de poesia, lembro o que é belo.
E o belo suscita-me, instiga-me, se impõe.