Morte poética

A idade avança... Rugas, artrite, artrose... Limitações se instalam. A morte espreita... Para minha surpresa, a vida que me resta sorri ao vê-la se aproximando. Sinto-me privilegiado por compreender que na vida, absolutamente tudo é poesia. Até a dor! Ou melhor! Principalmente a dor. Pena que nem todos consigam enxergá-la sob essa configuração.

Poesia é um estado d’alma, onde tudo e todos se tornam nutriente. Rochedos, abismos, ataques verbais, armas brancas, de fogo...

Estando sob poético estado vibratório, a morte é recepcionada com alegria, como ente querida que cumpre o encontro acertado, registrado em cartório celestial, nalgum momento do pretérito.

A “ceifadora”, como a chamam os leigos, é justa, e por isso também é recíproca. Quando capta nos olhos dos que farão o translado, que estes a enxergam com poesia, retribui o acolhimento, descortinando diante de seus moribundos olhos, outra etapa da existência. Agora sem as surradas vestes biológicas.

– Segue tua vida, poeta! Obrigado por compreender meu oficio – É o que normalmente diz, enquanto afagando a fronte daqueles que ela resgata no fronte de batalha.

E enquanto adentram nesse novo território ela os chama através de alguma interjeição e lhes atira com um potente peteleco, peque a dourada moeda que segue dando cambalhotas no ar em direção a mão do recém chegado, durante trajeto da moeda ela assevera:

– Imortal! Essa quantia lhe garantirá a primeira parcela da sua passagem de volta.