Meu pedaço de lama

A minha morada fica em cima da lama em tempo de enchente...

Nessa época todos vão embora, só fica agente...

Agente que nasceu vendo o barranco cair

Agente que rema, que planta que sofre, mas não sai daqui.

Tudo fica inundado, água por todas as partes...

Meus bichos em cima da maromba

Minhas fruteiras de baixo do rio

Minha rede perto da comieira

Na mesa, um bule de café, um peixe assado e o coração cheio de fé...

Da janela espio com lágrimas nos olhos, o roçado virar igapó...

Os filhos e a mulher vão pra cidade

E eu, aqui fico só....

Minha rotina é pescar, cuidar do pouco, platar só depois que secar...

A noite chuvosa, céu sem estrelas

Na Aurora da madrugada o frio que a rede não dá conta...

Mas não deixo, meu pedaço de lama...

No verão de tudo dá...

Banana, milho melancia e cara...

Os campos verdinhos, os bichos a pastar.

Muita fartura na mesa, no lago e no campo

A curumisada embiocando lá na ponte

A mulher do meu lado, carinhos aos montes

Aqui na várzea é complicado viver

Tem que a natureza compreender

Seu ciclo renova e se torna mais produtiva

As terras que caem, ressurgem como praias férteis e deixa o caboclo mais ativo.

Joilson Remanso
Enviado por Joilson Remanso em 28/01/2023
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