MANSIDÃO

DO NADA, OUVE-SE O RONCAR DE UM BARCO QUE ROMPE O SILENCIO DAS ONDAS MANSAS QUE CORREM SEM PRESSA NO LEITO DO XINGU.

A TORRENTE DAS ÁGUAS ESCAMOTEA OS SECRETOS SEGREDOS DOS SERES ABISSAIS QUE LÁ HABITAM, E RESISTEM A INVASÃO DO QUE SE CHAMA PROGRESSO.

QUE REGRESSEM SEUS PEIXES PARA ALIMENTAR OS NATIVOS, POIS OS PREGRESSOS QUE FICARAM PRESOS NAS BARRAGENS, PAGAM O ALTO PREÇO DO SUSTENTO DA PEQUENA LUIZA, QUE PRODUZ O MELHOR BOLOLÔ DO MUNDO, PARA QUE APENAS EM UM SEGUNDO, POSSA FISGAR A ALEGRIA DOS TRANSEUNTES NA PESCARIA DOS PACUS FECUNDOS.

POR TRÁS DAQUELAS OUTRAS BANDAS, QUANTAS TANTAS OUTRAS DEMANDAS:

VÊ-SE AS MATAS VERDES;

VÊDE-SE, VENHAM VER,

POIS ISSO NÃO SE VENDE.

DE OLHOS VENDADOS A JUSTIÇA DETERMINOU A RETIRADA DOS RETIRANTES QUE DEVERIAM SAIR;

MAS COMO IR, SE O VINHO FRESQUINHO AINDA ESTÁ NA TIJELA, E ATRAVÉS DAQUELA TELA, AINDA PERMANECE ABERTA UMA JANELA, DIZENDO QUE NÃO TEM COMO NÃO PROVAR ESSE TAL DE AÇAÍ.

BEM PERTO DALI, HÁ UMA ESPÉCIE DE PIRANHEIRA, ÁRVORE ESQUELÉTICA QUE RESISTE, INSISTE EM NÃO PERECER, PARECE ATÉ QUE SOBREVIVE AO VOLUME DA FORÇA DAS ÁGUAS QUE SE AVOLUMARAM COM A REPRESA, E QUE MUITO PREZA A PRESENÇA DA BRIGA DOS ALVORACEIROS XEXÉUS.

AO ANOITECER, REZA A LENDA, QUE AINDA ATRACA NAQUELE TRONCO, O SEU FELIPE, O CENTENÁRIO, E QUE TODO SER IMAGINÁRIO, É CAPAZ DE VER O SEU BARCO CHEIOS DE TUCUNARÉS.

SOBE A LUA, DESCEM RIOS, A BRISA SOPRA TANTO QUE CAUSA ARREPIOS.

NAS ÁGUAS BARRENTAS, CORRENTES DE LEMBRANÇAS INTENSAS;

OS RIBEIRINHOS AINDAM REMAM A FAVOR DA ENERGIA ELÉTRICA DO VENTO QUE A TECNOLOGIA NÃO IVENTA.

NA BEIRA, UMA CRIANÇA INOCENTE BRINCA DE SECAR O RIO, CAVANDO COM UMA COLHER;

ENQUANTO A TEMPO DE QUATRO MULHERES QUEREREM PESCAR UM ALEVINO;

DIANTE DE TANTA MANSINDÃO, COMO PODE SE EXPLICAR A FORÇA DAS MARÉS?

UM AGÊNERE ME ADVERTE, COMO PODE O PAGÃO QUERER ENTENDER O QUE É DIVINO?

PEDRO FERREIRA SANTOS 200223

PETRUS

À BEIRA DO RIO XINGU, ALTAMIRA (PA)