Pra quem quiser entender

Foi assim que a vida me ensinou.

Trazendo, aos poucos, sentimentos muitos,

Ora em mim mesmo, ora dando-me oportunidade

De aprender com outros do caminho.

Para entender, posso dizer agora,

É preciso, mais que tudo, acreditar:

Que sonhos podem acontecer;

Que posso, sim, ser feliz;

Que o amor é sempre mais,

E que amar não tem que fazer sentido.

Quando vemos alguém suspirando

E se dizendo apaixonado,

A dor de ilusões passadas

Ou os calos que a vida nos impõe,

Porque ela é difícil mesmo, eu sei,

Nos chama sempre à razão,

Numa descrença autoconfiante

De que quem ama não sabe o que é viver,

De que quem chora é de arrependimento,

De que é melhor desconfiar da alegria.

Para entender basta saber, agora,

Que toda dor é fato, mas passa;

Que a paixão é fogo, sim,

Mas o amor é sempre mais;

E que chorar não é pecado que mereça castigo.

A raridade faz a pedra preciosa,

Mas não a torna um objeto imaginário.

É preciso clareza, é certo,

Para diferenciar o raro real

Do comum mascarado

Por algum sentimento incontrolado,

Ou pela necessidade do ilusório.

Mas é essa mesma certeza, por vezes,

Que escurece a visão,

Por algum medo inevitável,

Ou pela incredulidade cultural do sublime.

Para entender resta aceitar, agora,

Que todo valor é pessoal e mutável,

Que a dúvida é pertinente, não obrigatória,

E que deixar o tempo mostrar

Não significa ignorar os sinais mais óbvios

Por terem sido os primeiros

E não terem dado tempo aos céticos

De se tornarem românticos.

Minha busca sempre foi pelo equilíbrio

E não consigo encontrar em mim

Qualquer sinal da falta dele.

Minhas idéias condizem com o que faço

E por isso meus atos revelam quem sou.

Aprendi há tempos que saber

É ter cada vez mais a exata noção

Do quanto ainda nos falta.

Por isso escuto conselhos

Sabendo que quem os dá

É humano e erra como eu.

Mas não vou deixar de viver,

Não vou deixar de ser romântico,

Não vou abrir mão dos meus sonhos

Nem de dizer que o que vivo agora

É mais do que pude sonhar um dia

E que acredito que é mesmo real,

Apesar do medo natural que o novo traz,

Apesar de achar que não mereço

Ou de ter preguiça de merecer.

Para entender, enfim, o que sinto agora,

Somente olhando em meus olhos,

Onde a verdade brilha,

Onde quem quer que seja

Pode ver que ela e eu somos um;

Somente aprendendo que ser feliz

É tão simples quanto amar;

Somente prevendo, sem relutância,

Que o mal do século é a solidão

Não por fugirmos dos compromissos

Mas por perdermos a nós mesmos

Tentando entender as coisas belas

Nos impedindo de, antes, senti-las.