Arde no peito como pimenta

Lembrar a mãozinha fofa que afagavam as mamas enquanto sugava o líquido vital .

Olhar os quartos vazios, quando parece que foi ontem, que as suas costelas aqueciam um corpinho miniatura, a buscar segurança .

Pensar nas mãozinhas gordinhas, frágeis e suaves deslizando sua face , momento que a linguagem era reproduzida apenas em toque , balbucio ou choro.

Atestar que é verdade que os filhos crescem, esquecem os pais e vão embora .

Confirmar que no final das contas a relação de amor mais sincera e desprovida de interesse chega a um fim da convivência .

Comprovar que de toda dor que a vida promove essa e a mais difícil de entender e aceitar.

Que o adeus aos nossos pais não nos preparavam para o tchau, até logo, até las vistas ou adeus , aos nossos filhos .

Que não importa quão consciente sejamos de que um dia irão embora , na hora da partida vai doer como se nada soubessemos.

Descobrir que deu tudo em vida pra não ficar com nada além de recordações.

Que aqueles anos que a todo momento ouvia o chamado de mamãe, nunca será igual.

Que a intimidade, confiança e partilha se foi.

Compreender que a evolução humana foi prejudicial ao núcleo familiar .

E que de tudo feito, dito e toda doação da vida

por uma vida ficou no passado sem elos sem laços e encaixes .

E que um dos lados ficará com toda dor, saúdade e solidão enquanto o outro simplesmente vai ...

Que os almoços aos domingos com o cheiro de churrasco ficou no ar, virou memória olfativa , fumaça no espaço .

Descobrir que o barulho das briguinhas tolas são boas lembranças e que aquelas fraldas sujas sao belas imagens pra recordar.

Mas que sobrou a velha música suave , eternizada na memória .... O chamado cotidiano por Mamãe.

Carmem Lacerda
Enviado por Carmem Lacerda em 03/03/2023
Reeditado em 04/06/2023
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