Partida
Dessa vez vai doer.
Estranha, doce e tristemente,
agora sinto-me parte de algo.
Nunca me senti assim.
Faço parte de algo agora,
e este algo não pertence,
e este algo sente minha falta,
porque eu não me pertenço.
Algum deus galhofeiro
escolheu-me uma sina de cigano.
Até então, tudo ia bem.
Fui preparado para ela.
Nunca me apeguei a nada.
Mas, agora, pregaram-me a peça:
vejo-me a me importar.
Mas, a vida continua a mesma.
Já estou eu de partida mais uma vez.
Armei tudo pra amenizar a dor.
Sou mestre em não permitir despedidas melodramáticas.
Aprendi a não fazer falta.
Marquei a partida sem avisar o dia;
não me envolvi demais com o elo mais fraco;
até fechei a porta do meu quarto e evitei o contato
o mais que pude.
Já me afasto gradualmente há dias.
Mas, que estranho, eis que os laços estão criados.
Fugiu ao meu controle,
e a partida é um embaraço.
E dói saber que faço falta.
Dói saber que me importo.