Quem me dera, Carolina

de repente,

ao consultar

o espelho,

meu rosto

sumiu

vi o de Carolina

e beijei-lhe a fronte

beijei,

decerto,

a imagem ancestral

dos mesmos

percalços

de Jesus, Carolina Maria

heroína não sabida,

catadora de papéis

estes os quais

enchestes de letras

quero que saiba

de mim

vamos seguindo

imitando a firmeza

do chão para

o mundo ver

conterrâneo

a viver no mesmo

quadrante urbano

falseando ouro

sem prata no olhar

a beliscar letras

cunhadas na tela

vou completando

algumas sentenças

com verbos de

papelão

despejo num quarto

versos de madeira,

de dureza maciça

conto, sim, o dinheiro

metafórico do

cansaço

num tempo futuro

ao seu, as agruras

vestem púrpura,

se supoem felizes

quando posam

para os retratos

lindas flores

se esquecem

às margens da vida

como rebotalhos

da paisagem

de elementos

grandiosos

ah, Carolina

a fome não me busca

nem me ofusca

a vivacidade,

mas a cidade

se queda

irrespirável

os ofícios formais

mastigam sujeitos,

arrotam altruísmos

usam, sim, e ainda

dos catecismos coloniais

escolhem-se os servos

pela dentição completa

e confesso a ti

não tenho dedos

de agarrar

estrelas

a crina se

deslustrou

perdi dentes

pelo caminho

avizinho-me

das irresoluções

adivinho-me

apenas entregue

ao meu próprio

alfabeto

quiçá impresso

nalgum alfarrábio,

nalgum lábio

a declamar-me

os lamentos

da ventura

que me cunha

o nome

somente ouvi

falar

quem me dera

vivê-la plena

à luz da

semântica

que a carrega

quem me dera, Carolina

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 17/04/2023
Código do texto: T7766192
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.