Ode

O olhar avança pra dar conta das vastas paisagens que o cérebro ainda sonha, e que as pernas ainda anseiam correr.

O olhar é infantil, mas é pagu, é bruxa, é cleópatra, é o mistério que decifra e devora ao mesmo tempo. O desafio cortante que afasta e pede pra ficar, que planta a dúvida e a espera, o pulso, a lágrima, a ironia e a inocência.

A boca é uma criação, uma criação que só se vê quando se fecha os olhos, mas quando se fecha os olhos, desaparece.

A boca é a mordida, mas é o beijo, e se dobra, se moldura pra esconder o sorriso tão branco que serviria de luz para os escuros caso assim fosse, caso assim apagasse, o fogo dos humanos.

A mente é afiada. A curiosidade primeira, o bom humor, a camada fina e invisível da desconfiança para com o mundo, da atenção aos maneirismos e pormenores.

Os cabelos floreiam e derramaram o mundo. Outro dia eu tava andando e vi um rio, um rio que se fazia em camadas, que se revelava de acordo com o vento que dançava. Seus cabelos eram aquele rio.

O perfil sob o qual se criou todos os outros, outros que não são nada além de cópia de mãos imprecisas. Perfil que nem o espelho consegue achar, e cria a imagem mais bonita que tem, que pode, que o olho humano é capaz.

Lá dentro, no avesso do bordado, onde as agulhas foram e voltaram para que fosse tecida a mocidade eterna, talvez por dor e medo é verdade, se esconde tesouro ainda mais tesouro. A pérola que antes de ser jóia teve que ser grão e se formar penosa e difícil. A mulher.