Resiliência

Tem gente que nasceu com a beleza irradiada para o sol, tendo por todo o físico o lume atrativo, enamorados da arte e marcantes a curto-prazo; outros com o coração maior que oceanos inteiros. Serão lembrados pelas marcas da história fazendo a diferença; há os totens da realidade: seres simbólicos da vida, trazendo à tona diferenças cruciais e humanistas. Revolucionando com a carne e o sangue os problemas ingloriosos; e existem os lúgubres passageiros da agonia, sobreviventes da tormenta, a qual me incluo.

Tenho a convicção desta minha faina melancólica. Nasci na violação do amor. Fui abastado pela pobreza de alma e monetária, não restando um tostão de alegria no bolso. Quando o bater calado da idade avançava, meu processo de crescimento pelejou contra mim. Meus ossos doíam ao se expandir. Eu rangia os dentes de tanta dor, mas mesmo assim, resisti. O sangue boiava na podridão das veias inúteis, e como meu desejo era sua exaurição, as separei fracamente da minha parda pele. Resisti.

Agora crescido olhando o clarão da escuridão no céu, pergunto-me o motivo disso tudo. Sem respostas, o vinho da garganta inflama minha consciência. Apago e acordo zonzo no dia seguinte. Resisti. Essa reles passagem do mundo provou-me que a resiliência é o meu oráculo; necessito apenas aguentar. Não sou belo, bom e afrontoso, sou um miráculo de células perdidas no corpo, balbuciadas a cada ano passado. A velhice consumirá a história sombria do meu tipo de gente. Até lá, resistirei à desgraça de viver. Dado a isso, a beleza, a bondade e a revolta escreverão sobre linhas brancas um mundo sombrio de pessoas quanto a mim.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 18/08/2023
Código do texto: T7864803
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