Uma poesia

Quando pego a caneta me sinto um menino de novo.

Não sei se sou um homem de segredos, também não sou do tipo de pessoa que sai por ai contando a sua vida pros outros. Engraçado que na primeira vez que tendo me expressar de uma forma não bruta, parto diretamente para uma biografia. Poderia simplesmente contar uma historinha bonita sobre pessoas bonitas vivendo as suas vidas alegres e seguindo felizes para sempre.

Poderia ter tentado poesia, eu gosto de poesia.

Nunca li um livro de poesia, nunca peguei em um também, mas já ouvi e, quando ouço eu sinto. Me acabrunho, me emociono, relembro de coisas que não vivi. Não saberia escrever uma poesia, não saberia nem como se começa ou como se termina. Não teria essa fineza toda, sou bruto demais e tenho também pouca vivencia no amor para isso.

Para escrever poesia acredito que o indivíduo deva antes ter amado bastante, ter tido muita experiência de vida. O que tenho é magoa e abandono, bruteza e desgosto. Vontade e desejo, nada disso serviria pra poesia, acho.

Cordel me parece um jeito de se expressar com palavras, muito bonito e de fácil entendimento, bom pra um moço de pouca instrução como eu me sentir representado e prestigiado. Leio e entendo. Gosto dos versos, das gravuras. É bonito e barato. Difícil de encontrar agora, mas ainda barato e prático.

Se gostaria de escrever uma estória de cordel contando a minha vida?

Não sou nenhum tipo de herói, não tenho uma grande saga pra contar. Rimar? Não sei rimar. Escrever como um repente, não sei fazer. Queria, mas não posso.

O que faço então? Tá mais pra um mero desabafo. Uma terapia. Um passatempo. Um ladrão de caixa d’agua que só encontra função quando a boia quebra. Assim posso definir bem esse trabalho de escrever minha história: estou transbordando histórias porque alguma coisa aqui no meu peito ou mente, em algum momento se quebrou, comecei a vazar.

O caderno já passou da metade e ainda estou no começo. Sei que tudo deve estar cheio de erros de escrita e em um português muito simples. As palavras bonitas me faltam. Vivo em um mundo de poucas palavras. Muitas vezes, passo o dia inteirinho sem que uma única palavra seja direcionada a mim. Ouço música, vejo televisão, assisto vídeos no telefone. Assim adquiro o contato humano, ouço palavras.

Luiz RRosa
Enviado por Luiz RRosa em 12/09/2023
Código do texto: T7884069
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