Nas cordas

Hoje eu precisava chorar, mas não achei um lugar. Então chorei pra dentro e, aos poucos, senti que a lágrima se transformou em duas mãos que apertavam o meu pescoço com uma corda, dando um nó tão forte que não conseguia respirar.

Foi então que percebi que estava lutando com alguém muito poderoso. Sem esperar que eu desafrouxasse o nó na garganta, foi acertando um soco no meu estômago e outro no meu peito.

Minha boca amargou, cerrei os dentes, estava rangendo. Era raiva que eu sentia, agora. Precisava revidar. Mas não acertava o meu oponente. Estava caindo na lona e no percurso da queda olhei ao redor. Vi as cordas! Era um ringue onde eu estava.

Então me agarrei ao que tinha ao meu alcance. De início mal consegui tocar as cordas. Os dedos escorregavam e elas já não eram mais tão rígidas. Vibravam. Percebi que, agora, elas eram de nylon. Tentei focar melhor e vi que eram as cordas do meu violão. Então cantei alto. Gritei ao som daquela canção que me saía como uma corrente de dor pelos dedos.

Ajudou. Mas não foi o suficiente. Meu adversário me viu cansar. Esmoreci mesmo. Não tenho vergonha de admitir. Decidido que não iria cair, apertei aquelas cordas com toda força. Sabia que podiam rebentar, mas, para a minha surpresa, já não eram mais cordas. Eram linhas. E entre uma e outra eu escrevi! Versos. Prosa. Pouco importava. Escrevi com vontade. Escrevi com toda a minha força.

Escrevi como se disso dependesse a minha vida. Escrevi como se pudesse ser lido e fizesse sentido para alguém. Escrevi como se mandasse uma carta para mim mesmo. E escrevendo, o nó afrouxou, respirei um pouco, mas só até a próxima linha, porque as cordas ainda estavam lá e eu estava jogado a elas, pressionado por um oponente forte que me acertava de todos os lados. Teve momentos que pensei que eram vários, tamanha força que exercia sobre mim.

Não podia levantar a cabeça. Olhava para baixo, para os lados, para trás, mas não conseguia mirá-lo nos olhos.

A dor aumenta se não cedemos. Ela vai nos cercando de todos os lados e promete que só irá parar se desistirmos. Pro chão - ela manda! Pra cama, já! Pro quarto! Para baixo da cama, se formos crianças. Para o leito de hospital, se formos velhos. Mas nunca, jamais, em hipótese alguma, ouse mirar seu adversário nos olhos. Afinal, é muito difícil encarar a si mesmo!

Eduardo Silveira de Menezes
Enviado por Eduardo Silveira de Menezes em 08/11/2023
Código do texto: T7927417
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