Ambiguidade

Será o meu sonho uma regalia da minha imaginação? Às vezes os passos dos caminhos são ambíguos. Escrever me dói; gostaria de ter inclinações às normas do status quo, não ter no âmago a poesia das misérias humanas. Nada garante que essa vocação literária seja um mero grilhão de esperança em meio a torrente abismal da vida. Somos levados à crença da predileção desde a infância, mas, e se os sonhos forem chamados do espírito angustiado? Se tudo o que construí for uma quimera da busca de propósito? E se a morte sequer compensar o tempo rasgado por palavras largadas?

Quem concorda com este meu pensamento deu o fatídico azar de concordar! Somos os pessimistas dos cafés amargos, puxados naturalmente ao horror do pensamento. Se discorda, é porque seus sentimentos são de natureza sublime, e que sorte ter a graça do sublime! Darão a nós soluções fáceis para indagações insolúveis; o máximo respeito por quem é normal, mas nunca nos entenderão. Há coisa mais triste que não ser compreendido? Além da incerteza das coisas, minhas ideias podem não chegar aos olhos atentos do mundo. A poesia é um espelho solitário.

Os meus sonhos são ambíguos como tudo o que me orbita. Tenho a natureza da organização e da seriedade. Sou no íntimo um amontado de órgãos com funções práticas e tautológicas. Vejo a lógica e as estruturas como algo belo, porém, jamais aponto de viver isso. Minhas ideais e comportamentos transcorrem no badalar dos segundos. Vejo-me análogo à cachoeira: profundamente fluído e deificado com a decadência de mim; intenso quanto seu estrondo, mas atômico no contato com as rochas. Meu cérebro é uma rocha maleável, que as emoções moldam pela sangria dos rios lúgubres.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 09/11/2023
Código do texto: T7928452
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