Avançar

É preciso avançar, não é mesmo?

Mas para onde?

Na verdade tudo é avanço

Até o recuar é avanço

É avançar para trás

Desistir é perda de tempo

Mas, voltar atrás, não é desistir

É retroceder para saltar logo adiante

É como fazem os atletas do salto em distância

Recuar não é desistir

Quem tem medo e paralisa, desiste

Quem tem medo e recua, insiste

Insiste porque existe

Insiste porque se parasse "estaria morto"

Morrer não é o fim, preste atenção!

O fim é "estar morto"

É um estado, uma condição

Mas a morte, que condiciona a maioria ao estado de esquecimento,

não precisa ser uma condição de paralisia

Há mortos que ainda estão vivos

Há mortos que insistem

Insistem em se fazer ouvir

Saltam o tempo, ultrapassam a morte

Há mortos eternizados

Eternizados, sim

Em ti e em mim

Pela arte

Pelo poema

Pelo teatro

Pela canção

Há mortos que ainda fazem acelerar o coração

de quem vê

de quem lê

de quem assiste

de quem ouve

de quem canta

Há mortos-vivos que não são zumbis

Mas há, também, os vivos mortos,

perdidos por aí

Avançando, avançando...

sem saber onde vão ou porque se botaram a caminhar

Olhe bem

Preste atenção

Eles estão por todos os lados

A maioria está correndo, bem agora, na sua frente

Já não podem parar...

Mas, no fundo, o que eles não querem mesmo é recuar, porque, aqui, desta distância, refletido cada passo apressado e inevitavelmente o que deixamos para trás, somos obrigados a olhar de outro modo para

o tempo

o dia

a vida

a eternidade

Eduardo Silveira de Menezes
Enviado por Eduardo Silveira de Menezes em 10/11/2023
Código do texto: T7928953
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