40 oportunidades

40 segundos é muito pouco. Mas há poetas que dizem tudo em menos tempo do que isso. Poderia citar vários. Cito um. Pessoa. Cito vários. Fernando Pessoa(s). Basta.

40 minutos é ganhar tempo. Algumas páginas de um bom livro. A prática de alguma atividade física. O capítulo de uma boa série. Uma playlist de músicas bem selecionadas. Uma brincadeira com o filho. Um bom papo com quem quer ouvir o que temos para dizer. Um bom tempo pra fazer valer a pena, na correria do dia, ao lado de quem amamos.

40 horas já é quase dois dias. Muita coisa a fazer. Muita coisa a se repetir. Muita ideia para trocar. O tempo, medido em horas, permite pensar adiante. Mesmo que seja logo ali. Programar o dia seguinte. Fantasiar que temos algum controle.

40 qualidades não tenho. 40 defeitos, listo rápido: impaciente, estourado, impulsivo, teimoso, exigente, desbocado, chato, inflexível, atrevido, grosso, imaturo, distraído, procrastinador, apressado, ciumento, debochado, arrogante, teimoso, crítico, desordeiro, antipático, rancoroso, mal-humorado, indeciso, perfeccionista, desconfiado, depressivo, ansioso, estressado, indelicado, sarcástico, rabugento, impertinente, mandão, imprudente, exigente, desafiador, vingativo, nervoso e birrento.

40 amigos de verdade não tenho. 40 viagens inesquecíveis também não. 40 certezas me faltam. 40 verdades que construí titubeiam. 40 mentiras que acreditei já caíram por terra.

40 dias, hoje, vejo que é um bom tempo. Para descansar. Para elaborar projetos. Para realizar sonhos. Para ouvir e dar conselhos. Para ver o filho crescer. Aprender, ensinar, falar, ouvir, brigar e amar.

40 segundos e se apagou a vida. 3 pontes de safena e o prognóstico de uma sobrevida para o meu pai. Foram anos resistindo pelos filhos. Mais um infarto, dessa vez fulminante. Alguns meses. Esse poderia ter sido o prognóstico de vida daquela que me deu a vida. Mas os dias foram se multiplicando. Viraram meses. Virou o ano. Viraram as nossas vidas. De ponta cabeça, de um lado e de outro. De cima para baixo. Viraram, giraram, sacudiram e acabaram. Acabou comigo. Arrancou algo aqui dentro. Nunca mais vai cicatrizar. 40 dias de luto. Pouco. Mais 40 e rumo a mais 40... não é nada.

40 pessoas me ouvindo, de forma simultânea, foi uma das melhores experiências da minha vida. Ouvindo e falando. Trocando. Dialogando. Aprendendo e ensinando. Em sala de aula. Quando tive a pretensão de que teria algo a ensinar. Saí de lá sabendo mais do que sabia quando entrei. Não deixei nada. Apenas levei.

40 dias. 40 noites. Ao lado da pessoa amada não é nada. Quem dera uma lua de mel infindável. 40 pores do sol. 40 luas. 40 verdades, nuas. 40 goles de cerveja sem refluxo. 40 vitórias do meu xavante, consecutivas. 40 folhas para o meu filho. 40 desenhos de presente. 40 obras de arte. 40 textos escritos. 40 bons livros lidos. 40 verdades que são ditas. 40 oportunidades para fazer melhor. 40 derrotas que ensinam.

Chegando aos 40, neste mês de novembro, eu quero mais 40 segundos, 40 horas, 40 meses, 40 dias, 40 noites, de forma exponencial. Quero manter a média de mais de 40 livros lidos por ano. Quero mais de 40 vidas vividas pela imaginação. Quero pelo menos mais 40 oportunidades. 40 momentos que façam valer a pena por mês. 40 sorrisos do meu filho por dia. 40 abraços verdadeiros. Não quero mais 40 anos. Não suportaria isso. Quero o suficiente, enquanto estiver com saúde, e que a saudade não abrevie o que a vida ainda tem para oferecer.

Eduardo Silveira de Menezes
Enviado por Eduardo Silveira de Menezes em 18/11/2023
Reeditado em 18/11/2023
Código do texto: T7934470
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