ConfissõeS...  

 

Confesso que, às vezes, insisto em buscar a linha e a agulha que pregará o botão de nuvens, e junto ao dedal de porcelana - aquele com a pintura de uma rosa - com delicado caseado cerzirão meus sonhos e desejos secretos...

Deslumbra-me sentir a textura do linho branco, o suave alto relevo dos bordados em ponto cruz em tons de azul e vermelho. Há lembranças que param os ponteiros do relógio... faz-me falta sentir a distante maciez e elasticidade da minha pele, receber carícias em meus seios, como se beijos de brisas me tirassem os véus... Faz-me falta a ausência das dores; de brincar de pular poças d'água e à noitinha encontrar vaga-lumes.

Enquanto escrevo faço uma pausa e lembro-me do antigo álbum de fotografias, e de alguns papéis de seda dobrados que antecedem as fotos e as esmaecem. Hoje, a janela amanheceu assim; nublada seda, papel - memória à espera do sol.

O ‘avesso da vida’ nem sempre é belo, tem seus nós e fins de linhas, mas lembra a essência do ‘lado direto’, permanecendo contida nesse desafio diário de manter a frágil chama da vida acesa...

 

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Foto: Vanice Zimerman