Masoquismo Religioso

Da minha formação cristã católica,

ficou o Deus do Novo Testamento,

acolhedor, preocupado, amoroso,

que perdoa, motiva, inspira, aceita,

um Deus humanizado, sensível,

já que somos a sua imagem,

um abrigo para os corações feridos,

para as almas cansadas e inconsoláveis,

para os tristes e perdidos no caminho.

Da minha formação na Filosofia Budista,

ficou o ensinamento do caminho do meio,

do equilíbrio humano/espiritual,

da racionalidade que acredita,

da fé que não tira os pés do chão,

da conexão com a natureza ecológica e humana,

de um mundo sistêmico e orgânico,

de uma elevação através do autocuidado,

das buscas pessoais e interiores,

sem alienações, sem repulsa do exterior.

Mas o que vejo hoje no mundo contemporâneo,

é uma fé cristã fanática conservadora do Velho Testamento,

a reificação de um Deus punitivo, implacável, ameaçador,

que julga, condena, castiga, ceifa vidas sem remorso,

uma religião da punição, onde os fiéis querem ser arautos,

perseguidores dos demais, aprisionadores de mentes e ações,

regozijam no preconceito e na destruição dos "desviantes",

vivem um masoquismo religioso onde o prazer está na dor,

a fé se realiza na imposição, violência e humilhação alheia,

o sacrifício, a abnegação, a tortura são valores cotidianos,

onde o inferno é mais popular que o tão esperado paraíso,

onde se forjam em "escolhidos", predestinados à glória,

na ansiedade de se colocarem como "especiais" no destino,

tentando ofuscar sua própria mediocridade e mesquinhez,

uma crença de terror, sem amor, com o pior do lado humano.

Entre essas três vertentes, a Budista me toca o coração,

o cristianismo do Novo Testamento me dá esperança,

enquanto a terceira me causa náuseas nas pregações,

me causa indignação nos fiéis e seus templos de poder,

e isso me faz indagar o quanto as pessoas estão cegas,

tão desnorteadas que aderem à qualquer discurso de medo,

preferem viver no pesadelo a construir seus próprios sonhos,

escolhem os grilhões do obscurantismo surreal,

da busca por abundância material e casamentos destinados,

à liberdade de encontrar a si mesmo em um Deus de graça e humildade.

Por isso, há muito igrejas não me dizem nada,

pastores e padres não me convencem,

fiéis me fazem querer estar o máximo afastado de pregações,

pois, não sou masoquista e nem quero ser,

não preciso de um Deus dominador para ser "especial",

escolho o caminho do amor, o caminho do perdão,

o caminho da fé que equilibra emoção e razão,

o caminho do meio, da felicidade na felicidade dos outros.