A aridez no meu sertão

Na aridez do sertão, onde o sol abrasador se impõe com fervor, ergue-se a parede de barro do açude, testemunha silente de tempos áridos e esperanças adiadas. Suas fissuras, outrora banhadas por águas cristalinas, agora denunciam a ausência delas, revelando cicatrizes do tempo e das agruras do clima implacável.

O açude, daquele tempo, representa o oásis do meu deserto. Suas águas refrescavam a sequidão do meu corpo sedento, alimentava a terra ressequida e permitia o cultivo à terra. Nas suas margens, brinquei alegremente.

Contudo, os ciclos da natureza impuseram sua lógica impiedosa. O que outrora era fértil e exuberante, agora é árido e áspero. O açude, com sua muralha de barro desprovida de água, permanecem de pé, quase como um lembrete da efemeridade e da necessidade de observar com cuidado e cumplicidade a mim mesmo.

Apesar da aparente tristeza da cena, a parede de barro do açude também representa para mim a resiliência necessária para a minha sobrevivência. Assim, como o barro que a compõe, eu me moldo e me adapto às adversidades. E, encontro os meios de sobrevivência mesmo nos períodos mais difíceis.

Enquanto a chuva não retorna e as águas não repousam novamente naquele leito ressequido, a parede de barro do açude permanece como símbolo de esperança. Pois, assim como as nuvens carregadas que prenunciam a chuva, a esperança paira no horizonte, renovando a minha fé que anseia por dias melhores.

E, quem sabe, quando o tempo e a sorte se unirem novamente, o açude será agraciado com o milagre da vida, e a parede de barro testemunhará a transformação de um cenário desolado em um recanto de boas lembranças e alegria, como em tempos idos. Até lá, ela permanece, firme e imponente, resistindo ao tempo, simbolizando a minha capacidade de enfrentar as adversidades e perseverar em meio à secura da vida.

José Campos
Enviado por José Campos em 08/02/2024
Código do texto: T7994895
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