ESSAS MULHERES

ESSAS MULHERES

Ah!, essas mulheres... “Quais exatamente?”, seu olhar me argui.

Essas que nos rodeiam. A que nos deu a vida, que nos nutriu e acalentou, corrigiu, chinelou e beijou. Essas que nos mimaram, de doces e surpresas nos presentearam. Nossas mães, tias, madrinhas e irmãs mais velhas. Essas de nosso universo íntimo que nos intimam a ser quem somos ou que desejam que sejamos como pensam que devamos ser. Que nos educaram, ensinaram os primeiros passos.

"Somente essas?", continuam a me arguir seus olhos, que dizem nada entender.

Não claro que não. Tem essas outras. As da escola, as tias e as donas. Tias no doce curto tempo do Jardim, as Donas da cantina, da secretaria e da alfabetização. Tia Neide nos deixou nas mãos de Dona Dirlene, uma doce e outra ríspida, voz terna e voz disciplinadora. Ah! essas mulheres... Disciplinaram-nos como mulheres fortes que foram e que são. Elas grandes, nós pequenos.

E tem as meninas. "Quais meninas?", pergunta-me novamente sua expressão de suave surpresa ladina.

As meninas que já começam a mandar e competir. As meninas apartadas de nossas brincadeiras de menino. Mas que depois, com seu ar feminil, sua graça encantadora, nos fizeram olha-las como bobo. Olhar desejoso de encantados. Corremos delas na infância para depois correr atrás delas.

Mas porque nobre amigo?

Por que talvez a vida sem elas seria atroz. Sem elas, nem vida haveria. “Um dia nos devoram a alma e com um beijo nos devolvem a calma”, falou o filosofo cantor Leonardo.

Eu sempre gostei de tê-las por perto, consciente ou inconscientemente escolhi. Meu mundo é cor de rosa. Porque penso assim? Tenho esposa, filha, mãe, sogra, cadela. Meus irmãos moram longe, meu pai e meu sogro noutro plano, meus amigos, poucos e pouco convivemos. Meu mundo é cor de rosa, é mais feminino que masculino.

Sem contar elas. "Elas quem?" Vejo você me perguntar apenas arqueando as sobrancelhas.

Me refiro a essas mulheres inventadas para comporem o mundo da fantasia, da mais nobre literatura aos pensamentos pueris. Como não lembrar de Ana, a Karenina, com seu encanto e deslumbrante beleza envolta em seu casaco e em sua melancolia de mulher que espera ser amada. E Vitória que quer engordar seus meninos e sonha com a cama de Seu Tomaz da Bolandeira. Mulher que ama seu Fabiano, na pobreza e na miséria, e no itinerário do sul maravilha pelo qual se encantou Macabeia, a virgem, feia e datilógrafa. E também tem essas mulheres roseanas. Otacília a noiva que espera com sua alvura e formosura concorrente de Diadorim que ama, mas se cala, se faz forte por um ideal abdicando do amor pela causa maior. Nhorinhá por uma noite só, valeu o muito alembrar de sua cama com folhas do sertão, cama limpa no deserto que deixou sabores, lembranças e uma presa de jacaré ao seu herói jagunço.

Essas mulheres espertas que nos amam até por "quinze meses e onze contos de réis", nada menos. Precisas nas financias e bonanças. Sem contar as que amam, mesmo em tempos de cólera, como Firmina que se esquivou até quase o fim. Amou como as mulheres da vila de pescadores que encontrando um afogado declarou-o, "o afogado mais bonito do mundo" e em sua homenagem deu seu nome, criado por elas mesmas, as carpideiras do desconhecido afogado, ao povoado, povoado do Estevão. Sem contar as antagônicas, como Capitu em seu misto de honesta e ladina, Gabriela de sensual inocência, Elionor com sua irmã Marianne conjugando razão e sensibilidade nas novelas do século XIX.

Na vida real ou na fantasia, são elas que dão encanto estético, ternura, suave perfume feminino, afetuosa presença. E dão fases à nossa vida elevando ou baixando a maré da vida. As luas de nossa existência. São tantas que temos, quem pode conta-las? Mas conto que no final das contas só queremos Penélope a nos esperar honesta tecendo com um fio sem fim.

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 06/03/2024
Reeditado em 07/03/2024
Código do texto: T8013934
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