De amanhã

Uma vida inteira intitulada corpo, pessoa, carne, emprenha, espreme, exprime, da vala encavoada do colchão velho uma delirante palavra-gesto, grito-afeto, mito, silencio de olhares incompletos e respirações pausadas pela metade. Ouvi o nascer do sol de longe, apesar do escuro do quarto e do escuro dos pensamentos terem esvaziado o espaço-tempo de qualquer ranhura de textura de vontade ou desvontade. Esta gozando sozinho ou tanto faz? Uma vida inteira incutilada corpo, pessoa na carne prenha, espreme, exprime da velha vala alcochoada da alcova: "venha". Eu te amo e tambem amo outra e outra pessoa, mas eu nao sei o que é o amor. É mito, a palavra-gesto, o grito-afeto, o amor são olhares incompletos e respirações pausadas pela metade, o amor é silêncio através do espaço tempo, o amor é um desenho, ou uma pintura, ou uma fotografia ou um destino. O amor afundou o colchão e deixou olheiras nos meus olhos e calos nas minhas carícias-mãos e neuras nos meus nervos nas minhas vistas. Cego pelo escuro das agoniações pensativas, eu ainda escuto o sol nascer de longe. O amor de ontem para hoje valeu a pena e o de amanhã valerá o dia de hoje. O dia de hoje valeu o amor de ontem e foi comprado a prazo. Eu escuto o sol nascer de longe e o dia chegar como uma entrega aliexpress, shopee e shein. Esta gozando sozinho ou tanto faz? Eu não sei o que é o amor. Uma vida inteira inacabada no corpo-pessoa, carne emprenha a primeira vista, espreme ao primeiro não, ao primeiro sim, ao primeiro olho exprime e isso aqui não basta, o momento não basta, o desenho, a pintura a fotografia preto e branco a entrega sem prazo que da a volta ao mundo aliexpress, shoppe e shein, não ou sim ou olho ou carne ou pessoa ou corpo na vala da cama. A vala da cama aberta e um corpo dentro com um olhar intenso sobre a carne-pessoa vã. Qual destino mais certo que tentar de ontem amor-viver amanhã?

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 06/04/2024
Reeditado em 06/04/2024
Código do texto: T8036306
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