Ode à juventude

A juventude se alimenta de pãos de mel folheados a ouro e pensa que sempre será assim. Mas se esquece que a vida avança igualzinho ao rio que segue em direção ao mar sem pensar em descanso.

São jovens; tem direito às irresponsabilidades, às peripécias das ações impensadas. Porém, não devem achar que sempre será assim, pão de mel também forma bolor. Disso decorre que tal qual o pão de mel, quando recém saído do forno, mantém a maciez e a textura ainda sem as intempéries do tempo, igualmente a juventude, no alvorecer de sua jovialidade não viveu os revezes do tempo. Nesse sentido, é de se esperar, e nisso decorre sua beleza, que à juventude se permite os excessos, afinal, por que se preocupar com o tempo quando se tem todo tempo do mundo?

Um trem desgovernado. Às vezes se parece um trem desgovernado, um trem fora dos trilhos, dirá o analista que, em vão, tentará achar a raiz do ..."problema". Mas qual problema quando o que se tem é uma guerra hormonal. Imagine o turbilhão de sensações, e emoções, que se apresentam à juventude. É possível pensar que confrontada com um quadro em completa disformidade, tem a juventude capacidade, ou interesse, de inquirir, ou entender, o significado?

Que encantos secretos habitam o jovem coração? Terá ele a obrigação de entender cada sutileza, cada acanhado sinal dessas sensações?

Que vá, a juventude, desbravar seus sonhos. Que viva seus excessos. Que se arrisque nas mil possibilidades que a vida irá oferecer, sem medo, sem receio, se entregue de corpo e sem alma. Que viva todos os amores possíveis e imaginados. Se tiver que vir, os dissabores serão parte dessa aventura. Que viva o primeiro amor, o primeiro beijo. Que chegue ao frenesi do encontro de dois corpos, leve e solta, e viva como se não houvesse outro amanhã, não tem dia de amanhã. O futuro é curto e fugaz. Que tudo se eternize no primeiro grito do filho que chegou ao mundo. Que à juventude não se negue o direito à vaidade, que seja frívola, não há nada de errado. Terá todo tempo para envelhecer e aprender e apreender que às paixões também se dá adeus. Bem, e quando chegar ao encontro marcado com os amigos, entabula-se uma conversa, e tudo se torna mais fácil e feliz, jovialmente feliz.

Ah, a juventude, tão irresponsável e tão desejada, imagina a eternidade como um tempo vivido num minuto. Que seja. Não há pecado em se imaginar eterno.