Décimo quinto conto poético: foi naquela fila

Foi naquela fila da lotérica, numa tarde em Juiz de Fora, que eu vi o olhar mais direto e mais interessado em minha direção

Me chamando

Sabendo que era proibido

Por minha timidez paranoica

Por nossa distância

Por aquela situação...

Foi naquela fila e, depois, no aeroporto

... que o encontrei de novo!!

E só para deixá-lo escapar

Se realmente queria algo mais sério que um olhar

Que uma troca sem encontro

Que uma sinergia paralela

E eu até pensei em procurá-lo

De tolo que eu sou!!

Como uma agulha no palheiro

Queria encontrar a agulha que espetou o meu dedo

E me deixou esperando pelo amor

Ou por mais um momento casual de entrega

E talvez não o veja nunca mais

Ainda pode acontecer de novo

Mas seria só para deixá-lo escapar

Sem uma única investida?

Sem qualquer tentativa??

Eu sei que nunca fui disso

De chegar perto e dizer que só tenho o meu corpo quente e o meu coração fervendo como garantia

Que não posso oferecer mais nada

Porque eu sou um nada para o mundo dele

E assim, eu continuo vivendo

Sem saber quem foi aquele olhar que me atravessou em uma tarde qualquer...

e me desejou como se eu fosse o último