Amigos fiéis

Ali estava ele, admirando a única coisa que lhe restava. Com o cano da arma apontado para sua face, ele se questiona: “É assim que deve acontecer?”. Arrasado, sentado na cadeira confortável de seu escritório, o velho homem se perguntava milhares e milhares de vezes o porquê de estar ali e acabar com tudo que construiu. A vida, até a um tempo atrás, tinha lhe trazido somente benefícios. Possuía uma grande empresa, filhos exemplares, uma ótima esposa e amigos fiéis. Porém, tudo fora por água abaixo: empresa, filhos, mulher e amigos. Tudo se foi, por um amargo motivo: a infidelidade de seu melhor amigo.

Olhando através de seus óculos relembra dos momentos com este verdadeiro “irmão”, que lhe foi tão especial: A infância inocente, a adolescência rebelde e o companheirismo profissional. Aquela pessoa foi 50% de tudo aquilo que ele era. Foi. Até ele descobrir que dinheiro de sua empresa estava sendo desviado para fundos de seu, não mais, grande amigo até falir por completa. Com a falência de seu império, se entregou a bebida e aos poucos foi perdendo tudo aquilo que mais prezava. Com exceção de seu cachorro. Um labrador, de cor amarela e olhos tristes, que o acompanhava integralmente nesses difíceis e duros tempos. Era um cachorro muito fiel, o seguia por todas as partes da casa solitária, o acompanhava por todos os cômodos, ajudando a relembrar os momentos felizes da então mansão vazia. Garrafas de whisk vazias eram encontras por toda parte. Tentava arrumar respostas nas diversas doses, repostas que não encontraria ali em milhares de anos.

Hoje, foi acordado com lambidas de seu fiel amigo. Logo após levantar-se, se direcionou ao seu habitual escritório. Observou sua escrivaninha e a grande cadeira revestida de couro. Foi até ela e sentou-se, abriu a ultima gaveta e localizou a bela arma prata de porte médio, a pegou, a direcionou para o rosto e segurou, com as fracas mãos, o gatilho. Estava prestes a disparar, até que seu cachorro soltou um latido. O fraco homem olhou para o animal e entendeu o latido como se fosse um “pare”. Naquele exato momento caiu em si. Soltou a arma e foi em direção ao cachorro, que estava na porta do escritório. O agradeceu por ter lhe salvado daquele momento de fraqueza e por lhe mostrar que nesse mundo podemos confiar em nossos fiéis amigos restantes, mesmo aparentando que não há nenhum.

O fraco empresário tornou-se um forte homem e se redimiu. Largou a bebida, recuperou o carinho da esposa e filhos. Foi ajudado por outros amigos e conseguiu reconstruir seu império. E percebeu que o verdadeiro império que ele havia perdido e que reconstruiu não era sua empresa e, sim sua família.

Em nossas vidas aparecem vários amigos e, sempre escolhemos um que confiamos nossa vida. Até esse “irmão” nos trair, muitas vezes por ganância ou inveja. Perdemos o chão e ficamos sem saber o que fazer com essa difícil realidade. Nesses momentos esquecemos que ainda existem outros amigos que nos desejam o bem e estão ali quando precisamos, mesmo parecendo que não existe mais nenhum para nos salvar.