FAXINAR O AMOR

Eu não sabia como é bom faxinar o amor. Ensaboar, esfregar, enxaguar o amor mofado, embolorado, que se tornou morno, opaco, enferrujado. Nada como um bom alvejante, um bom sacolejo no amor. Nada como arregaçar as mangas, pegar o amor nas mãos e, à maneira das lavadeiras da Lagoa do Abaeté, de forma cadenciada, deitar e bater sua alma na pedra, para lá e para cá. No ritmo frenético e compassado da lavagem do amor, com certeza a sujeira, a traição, a mentira, a deslealdade, o ranço do que já está velho e ultrapassado descerão Lagoa abaixo.

Como é bom faxinar o amor; deixá-lo secar e vê-lo surgir novinho em folha, limpo, pronto para habitar, para chamegar em outro coração.