Poema Vazio
Prezado poema que ainda não inventei:
Você deveria falar dos sonhos de amor ou... quem sabe...
Da dor, sempre se lêem textos assim, marcantes, tocantes...
Poderia desenhar uma noite de luar ou um verão, talvez,
ou quem sabe homenagear um santo, um ente, uma rosa...
Tema difícil, enredo miserável, afinal, sou poeta ou não?
Será que só sou mais um louco divagante ou senil?
Será que meus versos só surgem se houver melancolia?
Será que sou um tolo pensando que faz poesia?
Você bem que poderia me dizer, afinal não é meu confidente?
Você só pode estar num processo grevista, fale a verdade...
Boicotando milhares de palavras bonitas, não é? Eu sei que sim
Talvez você esteja numa manifestação de sua categoria,
buscando adeptos para os devaneios mais secretos
ou quem sabe perdidamente apaixonado por outra poesia...
Prezado poema, o que será de mim? Sou seu escravo...
Sem te escrever minha vida é apenas um vácuo, um espectro,
eu me misturo contigo nas letras que você me acrescenta,
não me deixe assim, nesta tristeza, desinspirado e paralisado,
minha virtude está amarrada no seu talento, não sou um só...
Volte pra este poeta que você tem abandonado,
faça juntarem-se aquelas palavras exaltadas e desconexas,
as quais retirei absurdas de tudo que eu já li ou vivi,
e você, mais louco do que eu, ousou tornar estrofes arrumadas...
Fique mais um pouco, somente enquanto vivo eu for,
somente para um mister, o de que meu coração bata!