AMOR, HOJE EU SENTI SAUDADES

“Não posso querer aquilo que desconheço, mas sinto saudades de algumas coisas que ainda não vivi, mas estão em mim desde sempre”. [A. Rodrigues]

Hoje eu senti saudade... Mas foi uma saudade diferente, cheia de prazer, enriquecida de doces lembranças e com aquele gostinho de melancolia. Uma suave lágrima, nem alegre, nem triste, decidia se caía para lavar meu rosto entristecido, ou ficava ali, adornando a janela de meu olhar.

Aos poucos fui alimentando a saudade que crescia perigosamente, me fazendo refém de nossos arquivos. E como quem nada contra correnteza, eu me afundava mais e mais nesta saudade que me consumia. Olhei suas fotos... Reli nossas cartas - beijando uma a uma para sentir o seu cheiro -, fiquei inebriada com o suave perfume nelas guardado e lembrei-me de cada detalhe quando estávamos juntos, lendo e falando sobre cada palavra ali escrita, as pausas feitas entre um parágrafo e outro para trocarmos beijos cheios de promessas, revendo seus olhos cheios de emoção ao ouvir cada frase ditada por meu coração apaixonado... Desenhei você em telas imagináveis, abracei seu corpo trazido pelo vento, beijei sua boca nos chocolates que comi.

Peguei aquele meu gloss que você adora, com ele risquei seu nome em meu corpo, li as poesias que você fez para mim; ouvi nossa música preferida, escutei sua voz no barulho do ventilador e quando meu corpo, tomado de desejo e saudade, foi lascivamente abraçado pela dor nascida desta agonia, senti-me flutuar em seus braços ao som de violinos que tocavam uma música suave. Minha camisola esvoaçava enquanto rodopiávamos no ar e aos poucos ela ia sendo rasgada pelo vento forte da solidão que me abraçava.

Decidi abrir os olhos e libertar-me desta saudade. Guardei cartas, fotos, limpei meu corpo e deite-me em nossa cama. Você estava lá comigo. Senti que me abraçava. Não eram seus braços a me envolver, mas a lembrança de outros abraços trocados em noites de amor. Também senti seus beijos, seus olhar – não há olhar igual ao seu –, seu carinho e descobri que saudade é uma coisa boa, mesmo quando estamos sozinhos desejando ardentemente a presença de nosso amor.

Ela é boa porque trás boas lembranças e mesmo não tendo sido sua, não tendo saciado esse insano desejo de estar em seus braços, eu não senti aquela terrível e dolorosa sensação de que estava incompleta, que faltava minha metade mais importante. Não, nada me falta, nós nos pertencemos e mesmo quando estamos longe você continua em mim. Assim, tudo que fazemos, falamos, escrevemos é para o outro.

Hoje eu senti saudade... E foi muito bom... Eu não estava sozinha. Você me fez companhia!

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 16/02/2008
Reeditado em 16/02/2008
Código do texto: T862715
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