MÃE, QUE  SAUDADE

     Minha mãe era uma senhorinha pequenina, miúdinha, magra, mas com um corpo com proporcões bonitas para sua idade. Falava baixo, gostava de cantar, e enquanto trabalhava, sempre cantava, geralmente músicas de Sergio Endrigo, que tanto gostava. Havia aprendido um pouco de italiano e dava para entender as musicas e algumas sabia toda a letra. Havia perdido muito da fluência, mas mesmo assim, dava para se alegrar ouvindo-o e acompanhando.
     Certa vez, usava um cordão de ouro português, herança de minha avò, quando já ia abrir o portão do edifico para entrar foi atacada por dois " adolescentes ", "carentes, sofridos pela vida que tiveram "; eram grandes, fortes, altos, e com violência arrancaram o cordão do pescoço dela. Minha mãe ficou arrasada, pela violência sofrida e por serem dois grandalhões que se fizesse queixa, seriam  duas crianças que nada sofreriam e ainda poderiam voltar para fazerem pior.  
     Desde esse episódio, ela decidiu junto com minha irmã ir morar no sítio, lá para os lados de Friburgo, antes dessa cidade, e com isso refizeram tudo, mãe cuidou do jardim, amava plantas e flores. Ficou lindo demais..Lá íamos e voltávamos com frutas da época, verduras e legumes tudo bem fresquinnho e ao olharmos da estrada só vislumbrávamos belo jardim todo florido, as árvores que não eram frutíferas, eram de cores diferentes, tinha ipês, magnólias, sol do Egito e muitas outras. O sitio era um recanto esplendoroso, gostoso e tranquilo.  Mas a felicidade não dura para sempre, ela ficou doente e teve que voltar para o Rio para se tratar. Viveu  pouco mais  de seis meses. Faleceu no mês que faço aniversário.
     Minha irmã não suportou viver lá sem ela, apesar de ter excelente empregado, mas tudo lá ficou muito triste. 
    Com ela aprendi a conversar com as plantas, como converso com meus animais de estimação. Aprendi muito da vida com aquela pequenina criatura, meiga, doce e gentil. O que ela aconselhou e não segui.....errei.
     Hoje, não sei porque, talvez  por esta situação que me encontro, ela já estaria aqui me ajudando e dando força para não desanimar.
    ´Tínhamos um médico de familia, apesar de não se achar mais disso , porém ele era médico desde que  minha mãe casou e veio acompanhando toda a familia. Ele era insubstituível...mas dizia que isso não existia...No entanto continuo achando que há pessoas insubstituíveis sim...Se ele fosse vivo, não estaríamos mais nessa incerteza de diagnóstico que não foi decidido ainda...e minha mãe...essa  nunca haverá no mundo quem a substitua por melhor que sejam para mim. Amo muito minha familia, faço tudo que puder para todos estarem sempre bem, na medida de minhas possibilidades, mas não sou o mesmo que ela foi....
     Hoje sinto saudades dela, dos dias que passava no sitio com todos os amigos de quatro patinhas, na época eram apenas  quatro e iam todos fazendo algazarra no carro, principalmente nos pedágios..acho que eles não achavam correto ter que pagar pédágio, pois latiam com todo os pulmões para o cobrador  e ao chegar, saiam em desabalada carreira pelo  gramada, como criança de apartamento que se vê num parque de diversões.
     Sinto saudades, mas as lembranças são muito gostosa de tempos bem felizes e de muita beleza, graças as mãos de minha mãe que tantas flores cultivou naquele jardim maravilhoso. Tudo passa, mas belas lembranças ficaram em minha mente para recordar o quanto já fomos felizes um dia. 
     Lembrar de minha mãe, junto lembro de belos jardins, pássaros no pomar comendo das frutas, e muita alegria de viver, além do grande exemplo que deixou de muita coragem, fibra e muita fé em Deus, sem nunca ter-se revoltado pela doença que a levou.
 
naja
Enviado por naja em 15/03/2008
Reeditado em 15/03/2008
Código do texto: T901871