O Dançarino

Por que não dançar? Apenas almeja o entreter? Não compreende que o entreter é a forma falsa de retirar o peso que tu carregas? Pois, para entrar no entretenimento, você precisa apenas negar a condição que enfrenta, sonhando com a que te colocam. Para assim imaginar que um dia você virá a tê-la. Olhe as revistas de moda, os comerciais de banco, os programas da tv aberta, escute os sons contemporâneos, para todos, só o prazer imediato interessa. As aflições, as angústias são para revoltados sem causa. Esconda o teu peso dizendo que está bem por saber quem o assassino da novela das oito. Contudo lhe advirto, para você livrar-se o peso da tua existência, tem de antes, afirmar todo este peso que tu carregas, amigo camelo, onde mais adiante o peso será ínfimo perante a existência grandiosa que tu começou a levar, mas para isso você tem de saber dançar. Lave esses teus pés-de-barro, calce as sapatilhas de cristal, seja você mesmo, desprenda das prisões que imagina ser obrigado a estar. Ninguém é mais livre que tu, já que pode criar a tua própria vontade, porém para ser um belo criador tem de saber dançar.

Pois dançando, ao deparar com os diversos abismos, sentirá rígido nas beiras de cada um sentindo-se mais livre por o abismo te olhar de volta e tu não sentirá o arrepio que os fracos sentem. Talvez, entoará até uma canção de título: Enamoratto per Vitta. Continuando no baile de si, perceberá ter estar entre as nuvens e tornando-se mais leve sobreporá elas. Passando pelos mais altos cumes do planeta, não olhará para baixo, ultrapassando as estrelas, chegará ao término das galáxias. Visto que, para tu, não existirá mais espaço no universo. O tempo essa criança levada que nunca te esperou, gritará para esperá-lo. Mas você, que até da tua alma (sua razão pequena) não precisa mais salvá-la por que ela foi absorvida pelo movimento incessante que o teu corpo ( sua grande afirmação) provocou neste todo tempo que esteve a dançar, continuará no teu próprio caminho. Bom, resta agora só a dança, talvez num certo momento de nostalgia deseje olhar para atrás. Deparando-se com um túmulo que constatará na lápide: Aqui jaz Deus. lembrando de um tempo antigo que os homens não olhavam para o horizonte. Porém, você olhou e veja como está dançando. Louva o riso. Já que, cada vez mais que você rir, mais o absurdo que a vida aparenta terá razão. Está amando não por estar habituado à quimera, mas ao amor.

Mas isso, só lhe acontecerá, amigo. Caso saiba dançar...